Tertúlia Literária com Jane Cristina Pereira

 Tertúlia Literária Dialógica na Chapada dos Veadeiros

Nesse mês de abril, iniciamos, na Chapada dos Veadeiros, um Clube de Leitura para mulheres, utilizando a metodologia da Tertúlia Literária Dialógica (TLD) com mediação de Jane Christina Pereira, escritora e pós-doutora em Literatura. O que é a tertúlia Literária Dialoógica? Trata-se de uma roda de leitura na qual se inter-relaciona vida e literatura. Os princípios da TLD se baseiam, principalmente, nas concepções de educação dialógica de Paulo Freire.  Tais princípios são: diálogo igualitário, criação de sentido, inteligência cultural, dimensão instrumental, igualdade de diferenças, solidariedade e transformação. Além disso, a fruição literária também  atravessa toda a experiência de autoconsciência e interdependência, promovida pela TLD. 

No nosso primeiro encontro aconteceue no dia 03/04/22, lemos poemas do livro Almofariz do Tempo, de Cássia Fernandes. A memória eletrizante desse encontro está aqui:

MEMÓRIA DO DIÁLOGO SOBRE OS POEMAS ‘A DOENCA DO MUNDO’ E ‘CAMISA DE FORÇA’. 

mundo completamente louco. histeria: coisa de mulher? o mundo todo histérico agora. mulher: generosidade de dar leite. eu estou louca, sou parte do mundo louco, completamente. eu me sinto muito bem assim. nós mudamos e o patriarcado não mudou:  nadando, nadando e subindo para respirar. o mundo tem um verniz, mas não é fácil sustentar a mudança. contra a corrente e matadas. esse culpar-se pelos males do mundo: na misoginia a culpa sempre é nossa. o irreversível chego: a mulher está sentada na santa ceia e o os caras não sabem o que fazer. eu não vou matar os homens. me sentir culpada por tudo: Chega! eu não sou a super heroína. quero estar por isso. Quero olho no olho, compartilhar com outras mulheres o que sinto. A gente pode mudar isso. a sociedade sempre diz o que, quando, como. medo do que os outros vão dizer? eu não consigo me livrar dessa amargura. com outras mulheres procurar soluções. a doença não é nossa e ainda temos que dar suporte aos adoecidos. isso me permite olhar para esse espelho: estou cansada de promover a saúde dos outros. estou cansada.  não vou matar os homens, mas não vou permitir que eles me matem. velozes e bêbadas. tanta overdose de realidade. o homem me ajuda em casa? ajuda? O que eu farei com isso? sinto um calor desesperado. menopausa. onde está o prazer?

o “nós” coloca uma com as outras. isso pode ser um aprendizado. não vai saber o que é sentir calor de dentro. é difícil saber dessa uma no meio do todo. o todo paira e não está só na matéria. esse encontro em que a gente consegue se escutar profundo. os homens, às vezes, sequer ouvem.  as amigas não tem ouvidos moucos. vivo muito um dilema interno: entremundos. Iluminações diferentes: yoga (eu) e capoeira (nós). na dimensão subjetiva é o eu. mas na dimensão social é o nós. como fazer a roda girar com os dois? um especial sobre a vida da Carolina Maria de Jesus. Isso tudo é ela. nossas vozes agudas e finas e desagradáveis. eu me achava totalmente inadequada: vergonha de existir: meu corpo, um estorvo no mundo. tudo que eu falava não estava de acordo. já me curei muito da auto anulação, muita terapia. mas até hoje sinto que não sou bem vestida. me achava feia desde a infância: uma camisa de força. se adequar é impossível, muito perturbador. quando fui publicar meu livro pensei: como eu queria ser se eu fosse um livro? meu amigo disse: legal, mas parece uma camisa de força. insistia: não mudou de ideia? eu considero quase tudo que ele fala. mas disse: talvez sua ideia seja uma camisa de força sobre o que é um livro. pode ser que prenda, mas ele também liberta. as pessoas impõe pra gente parte do que elas são. As pessoas se impressionam e se incomodam com nosso salto de liberdade. eu consigo ficar bem com minha loucura. fui em uma casa que tinha o almofariz do tempo. fui encontrar um amigo que era minha amiga. a gente tem um lugar de mulher que é nosso, mas esses lugares perturbadores perturbam tudo. ele perguntou: o que é ser mulher para você? não sabia. outros amigos trans que foram chamados de mulheres. Outro dia me perguntaram: você é hétero? exitei: será que eue sou?

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