Travessias possui lapsos que são típicos das recordações que são evocadas por uma imagem, um afeto, um cheiro, um carinho e perdem um pouco da nitidez devido ao passar do tempo, sem deixar de lado a sensação, a emoção.
Por outro lado, a forma como é contado cada fragmento dessa memória denuncia uma percepção atenta e clara dos fatos e daquilo que foi sentido.
Tudo vai sendo trazido à consciência de modo tão natural e fluido como o correr de um rio, imagem importante nessa obra. A água, símbolo da emoção para alguns, aparece de modo menos determinante no acontecimento dos fatos do que o mar de Ulisses, que, agitado por Poseidon, dificulta sua viagem.
Aqui, a água, mesmo nos momentos de tormenta, não é determinante e a própria Bia o percebe e reflete sobre isso, colocando-se em diálogo com a personagem do conto de Guimarães Rosa em seu rumo à terceira margem do rio. A solução para esta foi entregar-se à terceira margem; para aquela, transformar-se no próprio rio. Finalizo essa breve contextualização, lembrando-nos de que n’A paixão segundo G. H., existe um desejo de que aquele livro fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Aqui, estão todos convidados para uma Bela Festa, pois sentir-se-ão um pouquinho mais elevados, através de uma leitura que não exige um ritmo específico e possibilita travessias.
Por Chico Simões
Formato: 12×19
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